segunda-feira, 27 de julho de 2009

Figuras: Comentadas

O USO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM: Observe os versos abaixo:

LUA CHEIA Cassiano Ricardo

  1. “Boião de leite
  2. que a noite leva
  3. com mãos de treva,
  4. pra não sei quem beber.
  5. E que, embora levado
  6. muito devagarinho,
  7. vai derramando pingos brancos
  8. pelo caminho.”

As palavras do texto não estão usadas em sentido próprio. “Boião de leite” não significa “vaso bojudo, de boca larga, cheia de leite”, mas “lua cheia”; “pingos brancossignifica “estrelas”; “cami-nho”, “rota seguida pela lua em seu movimento no céu”.

Cabe, a essa altura, indagar que tipos de mecanismos permitem essa alteração do significado das palavras. Essa mudança baseia-se sempre em algum tipo de relação que o produtor do texto vê entre o significado habitual e o significado novo. Assim, “boião de leite” designa “lua” porque ambos os significados apresentam pontos de intersecção: a forma arredondada e a cor branca (do leite e da lua). “Pingos de leite” e “estrelas” também contêm uma inter-secção: o tamanho pequeno e a cor.

O USO DA METÁFORA: Observe a frase abaixo:

O interior de São Paulo está coberto por doces mares, donde se extrai o açúcar.

O termo “mar” significa “grande massa e extensão de água salgada”. Nessa frase, no entanto, pode significar “extensa plantação de cana”. Por que se pode alterar o sentido da palavra “mar”? Porque entre os dois significados há uma intersecção, isto é, ambos apresentam traços comuns. No caso, mar e canavial apresentam os seguintes pontos comuns: posição horizontal e grande extensão. Essa mudança de significado é uma metáfora.

METÁFORA é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que Le adquire existe uma intersecção.

A urbanização de São Paulo está sendo feita de maneira criminosa, porque está destruindo os pulmões da cidade.

Pulmão aqui significa árvore. Essa alteração de sentido foi possível porque o significado básico de pulmão e o significado de árvore apresentam uma intersecção: a função de oxigenar.

O USO DA METONÍMIA: Observe a frase abaixo:

Se o desmatamento de nosso território continuar nesse ritmo, em breve não restará uma sombra de pé.

Sombra, no caso, significa árvore, porque entre o significado de ambas as palavras, existem uma relação de implicação. Sombra implica árvore, já que a sombra é um efeito produzido pela árvore. Essa mudança de sentido é uma metonímia.

METONÍMIA é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que adquire existe uma relação de inclusão ou de implicação.

Exemplo: As chaminés deveriam ir para fora da cidade de São Paulo.

Chaminé significa aqui fábrica. Essa alteração de sentido ocorre porque o significado básico de chaminé inclui-se como parte do significado do todo, fábrica.

Como se pode notar, a metonímia distingue-se nitidamente da metáfora, porque, enquanto esta se baseia nua intersecção de traços significativos, aquela se fundamenta em relação de inclusão e de implicação.

Como se percebe que um termo tem valor metonímico?

Quando a leitura do termo no seu sentido próprio produz uma inadequação, uma imprecisão de sentido. Por exemplo, quando se diz:

Exemplo: No verão, o sol é mais quente do que no inverno.

A palavra “sol” não está designando o astro, pois, nesse sentido, seria absurdo dizer que o sol esfria no inverno. No caso, o sol significa não o astro (fonte de calor), mas o calor (efeito).

Exemplo: Comerás o pão com o suor do teu rosto. Esse pão custará lágrimas.

Suor, que é o efeito do trabalho, implica, portanto, por este, significa aqui trabalho. A partir dessa metonímia, pão deve ser lido como alimento, e lágrimas, como sofrimento.

O USO DA ANTÍTESE. Antítese é o expediente de construção textual que consiste em estabelecer, ao longo do texto, oposição entre temas e figuras.

Observe o fragmento abaixo, de Bertrand Russell:

As máquinas são adoradas porque são belas, e apreciadas porque conferem poder; são odiadas porque são feias, e detestadas por imporem a escravidão.

Há elementos que se opõem entre sei: adoradas X odiadas; belas X feias; conferem poder X imporem a escravidão.

No texto de Bertrand Russell, os elementos que se opõem são simultâneos, isto é, coexiste um ao lado do outro. Esse tipo particular de antítese chama-se oxímoro.

OXÍMORO ou PARADOXO é, pois, o procedimento de construção textual que consiste em agrupar significados contrários ou contraditórios numa mesma unidade de sentido. O que distingue o oximoro da antítese é que nesta os elementos contrários não são simultâneos, naquele o são.

O USO DA PROSOPOPÉIA: Observe o fragmento abaixo, de Alphonsus de Guimaraens:

  1. “Hão de chorar por ela os cinamomos,
  2. Murchando as flores ao tombar do dia.
  3. Dos laranjais hão de cair os pomos,
  4. Lembrando-se daquela que os colhia.
  5. As estrelas dirão: __ “Aí, nada somos,
  6. Pois ela se morreu silente e fria...”

Nesses seis versos do soneto, atribuem-se a seres inanimados características de seres humanos: os cinamomos (tipo de árvore) choram; os frutos têm lembranças; as estrelas são capazes de dizer coisas. Esse mecanismo recebe o nome de prosopopéia ou personificação.

PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO é, pois, o expediente de construção textual que consiste em atribuir qualidades ou acontecimentos próprios do ser humano a personagens não-humanos (animais, plantas ou coisas). Esse recurso serve para humanizar os seres não-humanos, transferindo para eles os mesmos traços do homem.

Podem-se também combinar qualificações ou eventos próprios dos animais com personagens humanos, para mostrar seu caráter animal. Nesse caso, temos a ANIMALIZAÇÃO. Quando se atribuem qualificações ou eventos próprios dos seres inanimados a personagens animados (animais ou homens), ocorre uma REIFICAÇÃO, usada para tornar os animados como que inanimados.

No texto abaixo, de Graciliano Ramos, o narrador animaliza e reifica Fabiano mostrando-o com um verbo próprio dos animais (entocar) e com verbos próprios de plantas (criar raízes, estar plantado):

“Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado.” (Vidas Secas)

O USO DA SINESTESIA: Observe o fragmento abaixo, de Alphonsus de Guimaraens

  1. “Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
  2. Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
  3. Oh sonora audição colorida do aroma!”

Nesse fragmento, associam-se sensações visuais (a luz) com sensações olfativas (tem cheiro); associam-se ainda três sensações distintas: auditivas (sonora audição), visual (colorida) e olfativa (do aroma). Esse expediente é designado pelo nome de sinestesia.

SINESTESIA é, então, o mecanismo de construção textual que consiste em reunir, numa só unidade, elementos designativos de sensações relativas a diferentes órgãos dos sentidos.

Na palavra “cheiro-verde” combina-se um termo indicativo de uma sensação olfativa (cheiro) com um de sensação visual (verde); ao dizermos “cor berrante”, combinamos uma palavra que designa uma sensação visual (cor) com uma que indica uma sensação auditiva (berrante).

Platão & Fiorin. Para Entender o Texto. PP. 121-132

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2 comentários:

  1. GOSTEI MUITO DA MANEIRA COMO FOI EXPLICADO ESTE TEXTO ESTA BEM CLARO, E DEFINIDO COM ISSO CONSEGUI ASSIMILAR MELHOR

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  2. Agradeço por ter usado o meu blog...Fico feliz em ter lhe ajudado.

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