sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estrutura Narrativa: Capítulo 3

OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A NARRATIVA

A história só pode se desenvolver quando a personagem é colocada em um determinado espaço físico (interior ou exterior), social e psicológico, combinado em um determinado tempo cronológico (de época, ano...) para que a personagem possa atuar e situar o leitor ao ambiente que ela vive. O autor, em sua narrativa, pode nos levar ao passado, presente ou futuro. Ele também pode ser basear em fatos reais ou fictícios. Se assistir uma peça teatral poderemos visualizar esses elementos mas na narrativa em prosa é necessário descrevê-los de maneira que o leitor possa construir a imagem da cena em sua mente. O texto narrativo é composto, além do que foi visto anteriormente, pelos elementos de Tempo e de Espaço.

ESTUDO DO TEMPO NA NARRATIVA

Podemos entender o tempo da seguinte forma: Tempo do Escritor: é o tempo histórico da vida do escritor que influencia a organização de sua narrativa, pela presença dos valores de sua época, e pela mudança desses valores ao curso de sua vida; Tempo do Leitor: é a decodificação do texto conforme os valores de época do leitor; Tempo Cronológico: aparece numa sucessão cronológica de eventos. Ela pode ser explicita ou ser deduzida pelo leitor; Tempo Psicológico: é a distorção do tempo cronológico em função das vivências subjetivas das personagens.

DIREÇÃO DO TEMPO DA HISTÓRIA DO DISCURSO1.

Esse paralelismo entre o tempo da história e o tempo do discurso pode ser rompido por um Retrocesso (flashback) uma restropectiva dos fatos ocorridos para melhor explicá-los ao leitor ou, romper-se em um sentido contrário com uma Antecipação (flash-forward) quando o narrador antecipa um fato que ainda não ocorreu ao nível da história.

A seqüência cronológica do tempo da história no discurso faz com que a ação se desenvolva de forma encadeada: as seqüências se coordenam linearmente, de forma que o final de uma acaba por se tornar o ponto de partida de outra. Esse processo é chamado de Encadeamento (os fatos ocorridos na história são registrados paralelamente no discurso narrativo).

A seqüência narrativa encadeada pode ser cortada por outras seqüências que nela se encaixem. É o processo de composição por Encaixes narrativos que é muito comum em contos. (Cf. “As Mil e Uma Noite” de Sherazad). As narrativas encaixadas são complementares à principal. Outro processo usado na construção narrativa de seqüências é a Alternância (quando duas seqüências são narradas de forma alternadas, conta-se uma história e depois outra, alternadamente).

PROPORÇÃO DO TEMPO DA HISTÓRIA NO DISCURSO.

O narrador pode concentrar cinco anos de vida de uma personagem em apenas cinco linhas ou pode transformar cinco segundos dessa vida em cinco páginas. Para as informações irrelevantes para o narrador serão suprimidas ou escondidas. Esse processo narrativo chamamos de Escamoteamento.

PROJEÇÃO DO TEMPO DA HISTÓRIA NO DISCURSO.

A projeção é normalmente Simples: um determinado assassinato ocorre na história e é registrado uma única vez no discurso narrativo. Entretanto, esse mesmo fato pode ser registrado várias vezes no discurso narrativo, na perspectiva de diferentes testemunhas que o presenciaram. Nesse caso, a projeção da unidade de tempo é Múltipla.

ESTUDO DO ESPAÇO NA NARRATIVA

O Espaço aparece integrada com o lugar físico por onde circulam as personagens e onde se desenvolve a ação. O Espaço Social é a ambiência social pela qual circulam as personagens enquanto o Espaço Psicológico que são suas atmosferas interiores. Por exemplo: uma personagem, devido à crise socioeconômica (espaço social), fecha-se num quarto (espaço físico), que favorece sua introspecção (espaço psicológico).

AMBIENTE.

Esse termo se liga a intersecção entre os espaços físicos, sociais e psicológicos. Aparecem nele, além do lugar em que se desenrola a ação, características sociais da época em que se desenvolve a história, e características psicológicas das personagens. O Ambiente pode refletir a atmosfera psicológica vivida pela personagem. O Ambiente não serve apenas para situar a personagem em sua época, pode ser um elemento útil à continuidade do conflito, constituindo índices (informações reveladoras de acontecimentos futuros) contribuindo para acentuar a atmosfera dramática: um ambiente escuro pode ser um índice de um acontecimento trágico, que ocorrerá a seguir.

A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO.

Com relação a narrativa cinematográfica, o espaço e a ação ocorrem simultaneamente. Essa simultaneidade não ocorre na narrativa em prosa de ficção, em que o autor, para construir o espaço físico, precisa fazer uma descrição, interrompendo o desenvolvimento da história. A representação da história no cinema é simultânea enquanto na narrativa escrita é sucessiva.

A TENSÃO PERSONAGEM-ESPAÇO SOCIAL.

O Espaço Social, enquanto sistema de valores, projeta-se na psicologia das personagens determinando o que ela pode ou não fazer. Se essa personagem tiver, em sua construção, a predominância de atributos sociais, seu comportamento no Espaço Social será altamente previsível. Se esses atributos sociais estiverem em conflito com valores psicológicos próprios, essa personagem entrará em tensão interior, e seus pensamentos e ações serão imprevisíveis.

A AÇÃO NA NARRATIVA.

Uma história pode se desenvolver através de uma ação central. Ações subsidiárias podem intercorrer nessa ação central, produzindo efeitos quanto ao desenvolvimento da história. No conto, a ação tende a aparecer de forma uma e concentrada, sem essa intercorrências. No romance, são comuns e variadas as inter-relações de linhas de ação. A Ação pressupõe a existência de personagens, que a desenvolvem rumo a um desenlace, ou desfecho. A Ação, no nível da história, oferece uma estratégia discursiva de suspense o escamoteamento de alguns fatos para revelá-los no momento mais importante da narrativa: o Climax.

1 O tempo do discurso é o tempo que um leitor leva para ler uma determinada unidade narrativa

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(ABDALA Junior, Benjamin. Introdução à Análise da Narrativa. Editora Scipione. São Paulo. 1995)

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