O USO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM: Observe os versos abaixo:
LUA CHEIA Cassiano Ricardo
- “Boião de leite
- que a noite leva
- com mãos de treva,
- pra não sei quem beber.
- E que, embora levado
- muito devagarinho,
- vai derramando pingos brancos
- pelo caminho.”
As palavras do texto não estão usadas em sentido próprio. “Boião de leite” não significa “vaso bojudo, de boca larga, cheia de leite”, mas “lua cheia”; “pingos brancos” significa “estrelas”; “cami-nho”, “rota seguida pela lua em seu movimento no céu”.
Cabe, a essa altura, indagar que tipos de mecanismos permitem essa alteração do significado das palavras. Essa mudança baseia-se sempre em algum tipo de relação que o produtor do texto vê entre o significado habitual e o significado novo. Assim, “boião de leite” designa “lua” porque ambos os significados apresentam pontos de intersecção: a forma arredondada e a cor branca (do leite e da lua). “Pingos de leite” e “estrelas” também contêm uma inter-secção: o tamanho pequeno e a cor.
O USO DA METÁFORA: Observe a frase abaixo:
O interior de São Paulo está coberto por doces mares, donde se extrai o açúcar.
O termo “mar” significa “grande massa e extensão de água salgada”. Nessa frase, no entanto, pode significar “extensa plantação de cana”. Por que se pode alterar o sentido da palavra “mar”? Porque entre os dois significados há uma intersecção, isto é, ambos apresentam traços comuns. No caso, mar e canavial apresentam os seguintes pontos comuns: posição horizontal e grande extensão. Essa mudança de significado é uma metáfora.
METÁFORA é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que Le adquire existe uma intersecção.
A urbanização de São Paulo está sendo feita de maneira criminosa, porque está destruindo os pulmões da cidade.
Pulmão aqui significa árvore. Essa alteração de sentido foi possível porque o significado básico de pulmão e o significado de árvore apresentam uma intersecção: a função de oxigenar.
O USO DA METONÍMIA: Observe a frase abaixo:
Se o desmatamento de nosso território continuar nesse ritmo, em breve não restará uma sombra de pé.
Sombra, no caso, significa árvore, porque entre o significado de ambas as palavras, existem uma relação de implicação. Sombra implica árvore, já que a sombra é um efeito produzido pela árvore. Essa mudança de sentido é uma metonímia.
METONÍMIA é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que adquire existe uma relação de inclusão ou de implicação.
Exemplo: As chaminés deveriam ir para fora da cidade de São Paulo.
Chaminé significa aqui fábrica. Essa alteração de sentido ocorre porque o significado básico de chaminé inclui-se como parte do significado do todo, fábrica.
Como se pode notar, a metonímia distingue-se nitidamente da metáfora, porque, enquanto esta se baseia nua intersecção de traços significativos, aquela se fundamenta em relação de inclusão e de implicação.
Como se percebe que um termo tem valor metonímico?
Quando a leitura do termo no seu sentido próprio produz uma inadequação, uma imprecisão de sentido. Por exemplo, quando se diz:
Exemplo: No verão, o sol é mais quente do que no inverno.
A palavra “sol” não está designando o astro, pois, nesse sentido, seria absurdo dizer que o sol esfria no inverno. No caso, o sol significa não o astro (fonte de calor), mas o calor (efeito).
Exemplo: Comerás o pão com o suor do teu rosto. Esse pão custará lágrimas.
Suor, que é o efeito do trabalho, implica, portanto, por este, significa aqui trabalho. A partir dessa metonímia, pão deve ser lido como alimento, e lágrimas, como sofrimento.
O USO DA ANTÍTESE. Antítese é o expediente de construção textual que consiste em estabelecer, ao longo do texto, oposição entre temas e figuras.
Observe o fragmento abaixo, de Bertrand Russell:
As máquinas são adoradas porque são belas, e apreciadas porque conferem poder; são odiadas porque são feias, e detestadas por imporem a escravidão.
Há elementos que se opõem entre sei: adoradas X odiadas; belas X feias; conferem poder X imporem a escravidão.
No texto de Bertrand Russell, os elementos que se opõem são simultâneos, isto é, coexiste um ao lado do outro. Esse tipo particular de antítese chama-se oxímoro.
OXÍMORO ou PARADOXO é, pois, o procedimento de construção textual que consiste em agrupar significados contrários ou contraditórios numa mesma unidade de sentido. O que distingue o oximoro da antítese é que nesta os elementos contrários não são simultâneos, naquele o são.
O USO DA PROSOPOPÉIA: Observe o fragmento abaixo, de Alphonsus de Guimaraens:
- “Hão de chorar por ela os cinamomos,
- Murchando as flores ao tombar do dia.
- Dos laranjais hão de cair os pomos,
- Lembrando-se daquela que os colhia.
- As estrelas dirão: __ “Aí, nada somos,
- Pois ela se morreu silente e fria...”
Nesses seis versos do soneto, atribuem-se a seres inanimados características de seres humanos: os cinamomos (tipo de árvore) choram; os frutos têm lembranças; as estrelas são capazes de dizer coisas. Esse mecanismo recebe o nome de prosopopéia ou personificação.
PROSOPOPÉIA ou PERSONIFICAÇÃO é, pois, o expediente de construção textual que consiste em atribuir qualidades ou acontecimentos próprios do ser humano a personagens não-humanos (animais, plantas ou coisas). Esse recurso serve para humanizar os seres não-humanos, transferindo para eles os mesmos traços do homem.
Podem-se também combinar qualificações ou eventos próprios dos animais com personagens humanos, para mostrar seu caráter animal. Nesse caso, temos a ANIMALIZAÇÃO. Quando se atribuem qualificações ou eventos próprios dos seres inanimados a personagens animados (animais ou homens), ocorre uma REIFICAÇÃO, usada para tornar os animados como que inanimados.
No texto abaixo, de Graciliano Ramos, o narrador animaliza e reifica Fabiano mostrando-o com um verbo próprio dos animais (entocar) e com verbos próprios de plantas (criar raízes, estar plantado):
“Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado.” (Vidas Secas)
O USO DA SINESTESIA: Observe o fragmento abaixo, de Alphonsus de Guimaraens
- “Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
- Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
- Oh sonora audição colorida do aroma!”
Nesse fragmento, associam-se sensações visuais (a luz) com sensações olfativas (tem cheiro); associam-se ainda três sensações distintas: auditivas (sonora audição), visual (colorida) e olfativa (do aroma). Esse expediente é designado pelo nome de sinestesia.
SINESTESIA é, então, o mecanismo de construção textual que consiste em reunir, numa só unidade, elementos designativos de sensações relativas a diferentes órgãos dos sentidos.
Na palavra “cheiro-verde” combina-se um termo indicativo de uma sensação olfativa (cheiro) com um de sensação visual (verde); ao dizermos “cor berrante”, combinamos uma palavra que designa uma sensação visual (cor) com uma que indica uma sensação auditiva (berrante).
Platão & Fiorin. Para Entender o Texto. PP. 121-132
GOSTEI MUITO DA MANEIRA COMO FOI EXPLICADO ESTE TEXTO ESTA BEM CLARO, E DEFINIDO COM ISSO CONSEGUI ASSIMILAR MELHOR
ResponderExcluirAgradeço por ter usado o meu blog...Fico feliz em ter lhe ajudado.
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