sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estrutura Narrativa: Capítulo 2

A PERSONAGEM: PESSOA E PERSONAGEM: O conceito de pessoa refere-se ao indivíduo pertencente ao espaço humano, um ser de carne e osso enquanto personagem refere-se à persona (máscara) da narrativa. Ela é um ser fictício, que se refere a uma pessoa. Ela é um ser de papel construído por palavras. Esse ser fictício, ao curso da narrativa, pelo fato de ser construído por palavras, recebe todo um sistema de predicação. Uma personagem de uma determinada narrativa, no decorrer da mesma, é configurada através de uma série de frases:

  • Características físicas;
  • Características sociais;
  • Características psicológicas.

Essa predicação pode ser direta quando a informação sobre a personagem vem através da voz do narra-dor, de outra personagem ou pela própria voz dessa personagem. ou indireta, quando envolve interpretação: a partir da ação e das falas/pensamentos das personagens o leitor deve deduzir como a personagem está sendo caracterizada.

As personagens podem ser simples ou complexas (ou personagens planas e redondas segundo E. M. Forster). As personagens simples são estáticas, elas não se transformam. Argumenta-se, nesse sentido, que vem dessa estaticidade o fato de essas personagens permanecerem por mais tempo na memória do leitor, constituindo os tipos. Por exemplo, a personagem Luísa, de O Primo Basílio, de Eça de Queirós, pode ser classificada como uma personagem plana. Ela é o tipo da mulher burguesa da região central de Lisboa, na segunda metade do século XIX. Ela foi construída com atributos de uma burguesa superficial, fútil e frágil. Seu comportamento é previsível, como o seu adultério.

A personagem redonda, pela sua caracterização complexa, deve figurar entre as personagens centrais da narrativa. Ela é imprevisível e suas predicações vêm aos poucos. Por apresentar complexi-dade psicológica, a personagem redonda pede focalizações internas, seja dela própria ou de outras personagens que a observam. É o caso de Capitu, de Dom Casmurro, de Machado de Assis, observada pela personagem narradora Bentinho, seu marido.

As personagens interagem, no desenrolar da história, desenvolvendo, entre si, alianças ou confrontos. Essas relações são motivadas pelas funções que as personagens exercem na narrativa.

Podemos dizer que uma personagem é Protagonista (ou Personagem Sujeito) quando ela se o sujeito da ação. Os conflitos desenvolvem-se torno dela, que é ponto de referência para as alianças e confrontos entre as personagens. Ela é o foco de interesse da história, e o discurso narrativo se organiza em função do desenvolvimento de seu conflito. Este se dá quando ela procura conseguir o objeto da ação, um determinado bem desejado ou temido; a Oponente é aquela que coloca obstáculos à ação da personagem protagonista. Graça às personagens oponentes é que temos o desenvolvimento de um conflito. Um caso particular de personagem oponente é a Antagonista: além de colocar obstáculos à concretização dos desejos e objetivos da protagonista, esta ainda disputa o mesmo objeto pretendido por ela. Esse objeto pode ser literalmente um objeto, uma idéia, uma pessoa (Personagem Objeto). Quando a personagem antagonista só possui predicados éticos negativos, ela é chamada de Vilão. A personagem Adjuvante é uma personagem secundária que auxilia a personagem protagonista, na busca de seu objetivo. As personagens adjuvantes opõem-se às oponentes. Numa narrativa mais ambígua ou de maior extensão, uma personagem adjuvante pode mudar de função, tornando-se oponente e vice-versa.

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