sábado, 21 de agosto de 2010

A Educação na Idade Média


NOS MOSTEIROS
ESCOLAS GRATUITAS PARA CRIANÇAS DE TODAS AS CONDIÇÕES


Fora do mundo secular, um espaço social lentamente impôs uma nova perspectiva à educação infantil: o monacato .
Os monges criaram verdadeiros “jardins de infância” nos mosteiros, recebendo indistintamente todas as crianças entregues, vestindo-as, alimentando-as e educando-as, num sistema integral de formação educacional.
As comunidades monásticas célticas foram as que mais avançaram nesse novo modelo de educação, pois se opunham radicalmente às práticas pedagógicas vigentes das populações bárbaras, que defendiam o endurecimento do coração já na infância.
Pelo contrário, ao invés de brutalizar o coração das crianças para a guerra e a violência, os monges o abriam para o amor e a serenidade.
As crianças eram educadas por todos do mosteiro até a idade de quinze anos. A Regra de São Bento prescreve diligência na disciplina: que as crianças não apanhem sem motivo, pois “não faças a outrem o que não queres que te façam.”
O sistema medieval e monástico previa a aplicação de castigos. Na Bíblia há passagens sobre os castigos com vara que devem ser aplicados aos filhos; na Regra de São Bento há várias passagens (punição com jejuns e varas , pancadas em crianças que não recitarem corretamente um salmo), e esse ponto foi muito destacado e criticado pela pedagogia moderna, que, no entanto, não levou em consideração as circunstâncias históricas da época.
Naturalmente isso se deve a um anacronismo e preconceito que não condizem com a postura de um historiador sério. Basta buscar os textos de época que vemos a felicidade dos egressos dos mosteiros pelo fato de terem sido amparados, criados e educados. 


Ao se recordar do mosteiro onde passou sua infância, São Cesário de Arles (c. 470-542) diz:
“Essa ilha santa acolheu minha pequenez nos braços de seu afeto. Como uma mãe ilustre e sem igual e como uma ama-de-leite que dispensa a todos os bens, ela se esforçou para me educar e me alimentar”.
Por sua vez, Walafried Strabo (806-849), então jovem monge, nos conta em seu Diário de um Estudante:
Eu era totalmente ignorante e fiquei muito maravilhado quando vi os grandes edifícios do convento (…) fiquei muito contente pelo grande número de companheiros de vida e de jogo, que me acolheram amigavelmente. Depois de alguns dias, senti-me mais à vontade (…) quando o escolástico Grimaldo me confiou a um mestre, com o qual devia aprender a ler. Eu não estava sozinho com ele, mas havia muitos outros meninos da minha idade, de origem ilustre ou modesta, que, porém, estavam mais adiantados que eu. A bondosa ajuda do mestre e o orgulho, juntos, levaram-me a enfrentar com zelo as minhas tarefas, tanto que após algumas semanas conseguia ler bastante corretamente (…) Depois recebi um livrinho em alemão, que me custou muito sacrifício para ler mas, em troca, deu-me uma grande alegria…”
Esses são apenas dois de muitos exemplos que contam a felicidade e a alegria que os medievais sentiram com o fato de terem tido a sorte de serem acolhidos em um mosteiro. 

(Ricardo da Costa, Prof. Adjunto de História Medieval da Universidade Federal do Espírito Santo) www.ricardocosta.com riccosta@npd.ufes.br










Origem do Teatro






TEATRO FRANCÊS
ORIGENS (séc. XI e XII)
Religioso (Milagres, Mistérios)
          Um teatro sério renasceu durante a Idade Média com a Igreja Católica. Elementos teatrais foram introduzidos em festas tradicionais como a Páscoa e o Natal, com isto a prática teatral aumentou. No início só o latim foi usado, mas aos poucos outras línguas eram usadas, como no texto do começo do século XII "Sponsus" escrito em dialeto Portevin. Histórias da Bíblia e vidas de santos foram dramatizadas, e com o aumento do número de dramas, mais peças foram encenadas fora da Igreja e sem o Latim.
Profano (Moralidades, Farsas, Soties)
          Um fator crucial no crescimento do teatro cômico foi a apresentação oral de muita literatura medieval. As primeiras peças cômicas datam da segunda metade do século XIII. O poeta Adam de la Halle compôs duas peças únicas: "Le Jeu de la feuillée" e "Le Jeu de Robin et de Marion".
          O teatro profano eventualmente tinha suas próprias sociedades de atores. As sociedades freqüentemente apresentavam peças em três modos: primeiro uma sotie (sotias), um esboço satírico; depois uma moralité (moralidades), uma peça didática e alegórica; e por fim umafarsa. Por volta de 150 farsas sobreviveram desde os séculos 15 e 16. A maioria tem menos de 500 linhas e envolve montes de personagens atuando em histórias como aquelas de fábulas. Elas são formadas por rimas de versos octassílabos e podem incluir músicas. a melhor é "La Farce de maistre Pierre Pathelin" (1465), uma história travessa envolvendo um astuto advogado e um desajeitado pastor, entre os vários cômicos personagens.

TEATRO CASTELHANO
Teatro Religioso (séc.XV)
Durante o século XV, desenvolveram-se as moralidades, alegorias de temática social e religiosa, protagonizadas por entes abstratos como a humanidade, o bem, o mal, a morte e a castidade. As moralidades eram um dos três principais gêneros, ao lado dos milagres, que narravam a vida de um santo, e dos mistérios. Destinada à educação moral, surgiram nas classes médias nascentes das cidades. Pregavam sobretudo a abstinência dos sete pecados capitais, num contexto de rápidas e irreversíveis transformações sociais que ameaçavam os valores éticos da então decadente estrutura feudal. La celestina exerceu grande influência na Europa de então. Com elementos humanistas e renascentistas, representa uma etapa decisiva na gênese da comédia clássica.
La Celestina
La Celestina ou Tragicomédia de Calixto y Melibea, atribuída a Fernando de Rojas. Romance dialogado ou teatro romanceado, confirma o sazonamento do idioma já compendiado em 1492. A data de 1499 é a da mais antiga edição conservada da obra.
La Celestina funde elementos populares e cultos, heranças medievais e aquisições pré-renascentistas na linguagem, nas citações, no espírito e na atmosfera em que desenvolve os seus primeiros 16 atos (acrescidos de mais cinco, interpolados na edição de Sevilha, 1501).
Com a ação que se desloca de quadro em quadro e surpreendente mobilidade de espaço e tempo, repousa num enredo nuclear simples. O jovem Calixto se apaixona por Melibea, repelido inicialmente, socorre-se das artes da velha bruxa e alcoviteira Celestina para ganhar o amor de sua escolhida. Melibea, sob a influência de um sortilégio, logo se enamora de Calixto. Paga por seus serviços, Celestina se recusa a dividir o lucro com os criados de Calixto, que a matam, sendo no dia seguinte, decapitados em praça pública. Calixto consegue entrar na casa de Melibea, passando com ela a noite. Pela madrugada, de volta, ao escalar o muro do jardim, cai desastradamente e morre. Melibea se suicida, atirando-se de uma torre.
Impõe-se a figura de Celestina, quer pelo dinamismo das falas, de corte popular, com inserções cultas, quer pela composição excelelte do tipo da alcoviteira, dá o título à obra, enriquecendo a língua com o seu nome, que caracteriza a função da mediadora. Demoníaca na malícia, representa a figura humana em seu lado negativo e sem escrúpulos, sublinhando em expressões contundentes a corrupção universal e contemplando o amor de um prisma cego e qualquer idealismo.
Calixto e Melibea, levados no turbilhão passional, alternam expressões enfáticas, de linguagem livresca e rebuscada, com formas do falar cotidiano. Os personagens secundários usam do mais desabusado vocabulário, embora de suas falas brotem, de vez em quando, retorcidas construções e latinismos ou citações clássicas.
A peça não vive apenasdas heranças medievais e da desenvoltura expressiva já encontradas na obra dos Arciprestes de Hita e de Talavera, mas está igualmente embebida na tradição clássica: Ovídio, Sêneca, Têrencio, Plauto e Boccaccio.
Considera-se a obra como ponto de partida para o teatro e o romance posteriores, da literatura de plena renascença do Século de Ouro, em que viverão os pícaros marginalizados, como Lazarillo ou Sancho e Dom Quixote, numa continuação de processos e linguagem a caminho daquela fusão e síntese da contribuição popular tradicional e da humanística italinizante.

TEATRO ALEMÃO
ORIGENS (séc. XI)
Os mistérios alemães tem mais interesse religiosos do que literário. Quando, em 1322, se representou em Eisenach o Spiel von den zehn Jungfrauen, e o Conde Frederico de Turíngia, sentado entre os espectadores, ouviu que nem a intercessão da virgem conseguira que Jesus Cristo perdoasse às "virgens loucas" da parábola evangélica, o conde desmaiou, fulminado pela angústia reliosa, para morrer poucos dias depois, em desespero. No Spiel von Frau Jutten (1485), de Dietrich Schernberg, já se antecipam sentimentos de inquietação protestante e insatisfação fáustica.

TEATRO INGLÊS
ORIGENS (séc. X)
Os mistérios ingleses são quase em tudo o contrário dos franceses. O elemento humorístico é de primeira ordem, especialmente quando se trata dos pastores, nas cenas de Natal, ou das tentativas inúteis dos diabos de perturbar os acontecimentos da história sacra. As peças revelam notável força dramática. As coleções mais importantes são os 48 Miracle Plays de York (1350-1440), as 32 peças do ciclo Wakefield (1450), também chamadas Towneley Plays, porque conservadas outrora em Towneley Hall, Lancashire, e entre as quais se encontram as duas famosas Shepherd's Plays para Natal; e os Conventry Plays, de 1468, com as duas peças para Corpus Christi, destinadas a representação por alfaiates e tecelões. O teatro medieval apresenta-se, ao memso tempo, como expressão vigorosa da religiosidade e como obra de colaboração pacífica entre todas as classes da sociedade.
Colaboração pacífica perturbada às vezes pelos ciúmes entre as corporações, e limitada, em todo caso, aos dias de festa. Ainda no século XV aparecem, a par dos mistérios, as Moralités e Morality Plays, nas quais agem, como personagens alegóricos, as virtudes e vícios personificados; e, na ocasião de apresentar os vícios, entra logo a sátira social, acalmando-se apenas com a idéia de que, no fim, a Morte igualará todos. A época, possuída da idéia de morte, sente-se decadente, crepuscular.
O teatro inglês do século XV é um prolongamento dos já ciclos urbanos de Coventry e de Wakefield. Trata-se de uma dramaturgia essencialmente religiosa e popular, constituídas de mistérios (narrativas bíblicas) e, mais tarde, moralidade (alegoria dos vícios e virtudes humanas). Outra categoria de teatro medieval, o milagre (vida e santos), está ausente desses ciclos urbanos ingleses. As moralidades, por sua vez, acabariam por transformar-se nos interlúdios, que é a primeira forma de teatro profissional a ser empregadas na Inglaterra. Alguns desses interlúdios tornaram-se muito conhecidos como o de Castle of Perseverance (Castelo da Perseverança), Mankind (A Espécie Humana) e Everyman (Cada Homem).

 

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