sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estrutura Narrativa: Capítulo 1

ANALISE DA NARRATIVA. Analisar uma narrativa é, pois, correlacionar, em torno de um núcleo central de idéias, a organização de seus elementos estruturais, conforme as necessidades da argumentação. Analisar pressupõe argumentar, defender o ponto de vista crítico que é a sua razão de ser.

FORMAS NARRATIVAS. Entre os séculos XII e XIII, as produções poéticas em língua românica (língua derivada do latim) que narrava feitos heróicos medievais eram chamadas de romança. No século XIV, emprestada do italiano, o termo novela substituiu em espanhol e inglês o termo romance. Em português, novela passou a designar narrativa menos extensa e menos complexa que o romance que necessitava de uma complexa estrutura de construção. A forma mais curta e condensada de narrativa são conhecidas como conto. Em resumo, o que caracteriza o conto é a sua brevidade, o que leva o escritor a hierarquizar os fatos a serem narrados de forma a provocar no leitor um efeito marcante.

Essas formas narrativas são classificadas por gêneros que se faz saber: Gênero lírico: é a forma em que o escritor é mais subjetivo e que ocorre quando resulta de uma relação intuitiva ou interiorizada do escritor com o mundo; Gênero narrativo: é a forma pela qual o escritor cria uma impressão de objetividade e que se apóia numa dinâmica temporal, com uma sucessão de acontecimentos e transformação dos fatos contados; Gênero dramático: é a forma na qual o escritor se esconde por trás da representação e da fala das personagens que ele criou.

A história é formada pelo conjunto dos fatos relatados e constitui o plano do conteúdo da narrativa. São fatos fictícios, no caso da prosa de ficção, mas que procuram manter uma relação de verossimilhança (semelhança) com a realidade.

Uma análise literária pressupõe em desmontar o texto e estudar sua articulação em torno de seu princípio configurador (uma estrutura, um tema) capaz de explicar o sentido de sua construção.

Na análise de uma narrativa, o autor é o sujeito que a escreve, o escritor que recebe da realidade em que vive os estímulos que o levam a produzir o texto. Entretanto, na análise do texto é fundamental a utilização de outro conceito – o de narrador. Entidade fictícia, como as personagens e a história contada, o narrador acaba por constituir uma verdadeira persona (máscara, personagem), que narra os acontecimentos. O narrador não pode ser confundido com o autor, mesmo quando a narrativa é contada na terceira pessoa do singular.

É na interpretação que podemos encontrar uma idéia central, capaz de nos levar a entender o sentido da construção do texto narrativo, no desenvolvimento do(s) seu(s) tema(s). O tema é uma idéia mais abstrata em torno da qual se desenvolve a história. O assunto é a maneira como esse tema é concretamente desenvolvido.

Há dois modos básicos de narrar: ou o narrador introduz-se no discurso, produzindo-o, então, em primeira pessoa, ou ausenta-se dele, criando um discurso em terceira pessoa. Segundo o crítico literário norte-americano Norman Friedeman existem uma tipologia que designa o ponto de vista do narrador em sua história. Essa tipologia é dividida em:

O NARRADOR EM 1ª PESSOA: “Eu” como Testemunha: o narrador é uma personagem de menor relevo e que relata fatos ocorridos com a personagem central ou personagens centrais. Este foco é mais limitado que o anterior: o narrador só consegue narrar o que viu ou pesquisou, não conseguindo penetrar na consciência das personagens; “Eu” como Protagonista: neste caso, é o protagonista da ação: ele conta fatos relacionados com ele mesmo, tal como os vivencia ou vivenciou. Se no foco anterior o narrador podia circular em torno da personagem principal e contextualizar as suas ações, neste, o ponto de vista localiza-se num centro fixo, o da personagem protagonista, registrando suas percepções, sentimentos e pensamentos;

O NARRADOR EM 3ª PESSOA: Onisciência do Autor-Editor: o narrador comporta-se como um deus em seu universo ficcional: está em todos os lugares e em todas as épocas. E tem toda a liberdade para narrar; onisciência neutra: o narrador é onisciente, domina todo o universo ficcional, mas procura criar a ilusão de que não interfere na história (ele não faz intrusões, comentários explícitos). Ele não interrompe o relato para colocar os seus pontos de vista críticos. O leitor tem a impressão de que a história se desenvolve por conta própria;

OUTROS FOCOS NARRATIVOS: Onisciência Multisseletiva e Seletiva: estes focos só ocorrem com discurso indireto livre. São focos que dramatizam a consciência das personagens: temos aí o registro de suas percepções, pensamentos e sentimentos como eles estão sendo produzidos, sem resumos do narrador. (Onisciência seletiva: focalização da consciência de apenas uma personagem); Modo Dramático: desaparece a figura do narrador. Lemos o texto como se estivéssemos assistindo a uma peça de teatro: aparecem apenas os diálogos entre as personagens e os marcadores de cena, que situam essas personagens no espaço; Câmara: corresponde à maior exclusão do narrador. Como uma câmara cinematográfica: não haveria seleção de imagens. Segundo Lígia Chiappini “Esta categoria serve àquelas narrativas que tentam transmitir flashes da realidade como se apanhados por uma câmara, arbitrária e mecanicamente. (...) A câmara não é neutra. No cinema não há um registro sem controle, mas, pelo contrário, existe alguém por trás dela que seleciona e combina, pela montagem, as imagens a mostrar.”

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