terça-feira, 2 de junho de 2009

Empréstimo Lingüístico

Doracy Camargo e Borges

Toda língua viva tem seus mecanismos de ampliação do léxico. São dois os processos de ampliação:

1º Processo:

o processo de criação dentro da própria língua, e

2º Processo:

o processo de adoção e conseqüente adaptação de um termo de outra língua qualquer, em determinado momento histórico.

O primeiro processo, ou seja, a criação lexical compreende a inovação na forma, ou neologismo formal e a inovação no significado, ou neologismo conceptual. Passando para o segundo processo – a de adoção e adaptação de uma palavra de outra língua, estamos diante do que se chama EMPRÉSTIMO LINGÜÍSTICO.

O empréstimo lingüístico é um processo, excelentemente, produtivo na renovação ou ampliação lexical da língua portuguesa. É uma renovação própria das línguas que se caracterizam como um sistema in fieri ; a língua não é um produto pronto, acabado; renova-se constantemente, e sempre se fundamenta em modelos já existentes. Assim, ao substantivo inglês “flirt”, acrescenta a flexão própria do verbo /-ar/, e com esse morfema gramatical forma-se um novo vocábulo, o verbo “fletar”.

Nem sempre a inovação é aceita; aceita-se aquilo que é funcional, portanto o que é certo, desde que corresponda a uma necessidade social, estética ou funcional do contexto social, daí alguns empréstimos terem vida longa, e outros, vida breve como:

speaker” > substituído por “locutor”; ou “goal-keeper” > reduzido a “goleiro

Por outro lado, alguns empréstimos não só permaneceram, como também sobre eles, pelo processo quer da prefixação, quer da sufixação, outros derivados se formaram:

metropolitan” > “metrômetroviário”; ou “xerox” > “xerocarxerografar

SÃO CONSIDERADAS CAUSAS FUNDAMENTAIS DO EMPRÉSTIMO:

1ª Causa:

a INTERCOMUNICAÇÃO decorrente dos limites geográficos e relacionamento sócio-cultural;

2ª Causa:

a INTERVENÇÃO POLÍTICO-CULTURAL; e podemos acrescentar como terceira causa a ação da IMPRENSA FALADA e ESCRITA.

Considerando a língua portuguesa no Brasil, os contatos lingüísticos geram outro tipo de empréstimo – empréstimos promovidos pelo inter-relacionamento:

1) PORTUGUÊS – TUPI:

imposição imediata da língua dos conquistadores. O tupi, no nosso contexto lingüístico é o que se chama SUBSTRATO;

2) PORTUGUÊS – AFRICANO:

o grupo sudanês, localizado no território baiano, e o grupo banto, disseminado em todo o Brasil, promoveu, socialmente, a convivência mística-religiosa e cultural: escravos e senhores. Desse relacionamento, hábitos, costumes, crenças e iguarias são realidades que exigiram novos lexemas: banto, samba, candomblé, mucama, mocambos, etc. A contribuição da linguagem africana caracteriza o que se chama SUPERSTRATO.

O empréstimo não é uma criação lingüística como o neologismo; não é a criatividade do falante que se impõe; o empréstimo é uma necessidade extralingüística em função de uma realidade.

FASE DO PROCESSAMENTO

A palavra estrangeira que é importada da língua |A| passará por:

1) adaptação na língua B, ou

2) não-adaptação na língua B, dando origem ao que se chama XENISMO.

NOTA: Xenismo são palavras que guardam a sua forma original, ainda que sejam do uso corrente: “Shopping Center”, CD (Compact Disc), AIDS, etc.

Processo de Adaptação: os fonemas da língua A ou seja da língua que fornece o empréstimo não permanecem na língua B, ou seja na língua de importação, havendo necessidade de adaptá-las, e que, em português, normalmente, se faz com o acréscimo de uma vogal seja no início da palavra, seja no final: “stress”=estresse, “record” =recorde, “club” =clube.

ESTRANGEIRISMOS

Definem-se como empréstimos desde que sejam incorporados ao idioma, classificando-se:

DECALQUE: alta costura (haute couture);

ADAPTAÇÃO: chá, futebol; ou

INCORPORAÇÃO: show, shopping.

O estrangeirismo é usado pelo falante comum, pela forma oral ou escrita; o seu ingresso na nova língua se processa como PAROLE; posteriormente, incorpora-se como EMPRÉSTIMO.

CARVALHO, Nelly. Empréstimo Lingüístico.

2 comentários:

  1. Muito legal... adorei de verdade... estou muito interessada em desenvolver uma pesquisa sobre empréstimos lingüísticos, só que com os povos indígenas,ou seja, os empréstimos que eles fazem da língua portuguesa... atualmente estou lendo vários livros sobre o assunto, mas se puder me dar alguns dicas, ficaria muito grata, principalmente no que se refere a organização dos dados encontrados...

    Abraços.

    =)

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