quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Língua Falada e Língua Escrita

 

LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA. Os gramáticos imaginam a fala como o lugar do erro, incorrendo no equivoco de confundir a língua com a gramática codificada.

As nossas gramáticas tratam as relações entre fala e escrita tendo como parâmetro a língua escrita. Este fato tem gerado uma postura polarizada e, por vezes, preconceituosa.

Para analisar adequadamente um texto (falado ou escrito), é preciso identificar os componentes que fazem parte da situação comunicativa: os papéis de cada participante, as suas características (interesse, classe social, etc.), as relações entre eles, o contexto, o tópico, o envolvimento dos participantes com o texto, num evento lingüístico particular, pois eles determinam os componentes lingüísticos desse texto.

RELAÇÕES ENTRE FALA E ESCRITA: CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO.

FALADA

  • Interação face a face;
  • Planejamento simultâneo à produção;
  • Impossibilidade de apagamento;
  • Sem condições de consulta a outros textos;
  • Ampla possibilidade de reformulação: é marcada, pública, pode ser promovida tanto pelo falante como pelo ouvinte;
  • Acesso imediato ao feed-back do ouvinte;
  • O falante pode processar o texto, redirecionando-o a partir das relações do ouvinte.

ESCRITA

  • Interação à distância (espaço-temporal);
  • Planejamento anterior;
  • Possibilidade de revisão para operar correções;
  • Livre consulta;
  • As reformulações podem não ser tão marcadas, é privada e promovida apenas pelo escritor;
  • Sem possibilidade de feed-back imediato;
  • O escritor pode processar o texto a partir das possíveis reações do leitor.

Especificamente, a fala apresenta possibilidade de:

  • Maior liberdade de estruturação sintática, tanto no que se refere ao caráter local (unidade sintática), quando global (a nível de inter-relacionamento de tópicos);
  • Maior uso de elementos contextualizadores;
  • Maior freqüência de marcadores interacionais;
  • Maior ocorrência de expressões generalizadoras.

Em textos falados pode-se detectar um caráter de maior fragmentação; já para os textos escritos a possibilidade de integração é mais acentuada.

A interação face a face pode gerar um envolvimento / distanciamento com alto teor de acentuação, que é identificado pela incidência de traços marcados lingüisticamente.

A análise dos textos (falados e escritos) revela que os falantes têm noção de que estão diante de duas modalidades distintas para a realização do mesmo tipo de texto. Assim, observam-se eliminação de marcas estritamente interacionais: marcadores convencionais (oh, sabe?, né?, ai?, aio?), bem como marcas prosódicas (alongamentos = des::truiram - hesitação = na/no - pausa = crença... - entonação = VELHO - etc.) e a inclusão da pontuação típica da escrita (vírgula, ponto e vírgula, ponto final, aspas).

Verifica-se o apagamento de repetições, redundâncias e auto-correções e a introdução de substituição por pro - formas ou elipses e ainda o uso de expressões sinônimas ou quase sinônimas, que buscam resgatar o mesmo referente.

Há diferenças na seqüenciação tópica de uma modalidade para a outra, que se revelam nas distintas formas de encadeamento sintático. Na fala, essa seqüenciação se dá através de marcas lingüísticas de continuidade (daí, aí, então, depois, etc.), possibilitando a produção de um texto mais extenso e pormenorizado. Na escrita, tal seqüenciação se estabelece visando a uma concisão, marcada por construções sintáticas em que o período é produzido de forma a resgatar as idéias sucintamente.

OPERAÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO ESCRITO A PARTIR DO TEXTO FALADO.

1ª operação:

Eliminação de marcas estritamente interacionais e inclusão da pontuação.

2ª operação:

Apagamento de repetições, redundâncias, auto-correções e introdução de substituições.

3ª operação:

Substituição de turnos por parágrafos.

4ª operação:

Diferenciação no encadeamento sintático dos tópicos.

5ª operação:

Tratamento estilístico com relação do léxico e da estrutura sintática, num percurso do menos para o mais formal.

Cf. NORMAS PARA TRANSCRIÇÃO: segue as normas 2“NORMAS URBANAS CULTAS: NURC/SP Nº 338 EF, 331 D2 E 153 D2”

VOCABULÁRIO:

TURNO: é a vez de sua fala – a maneira correta de tomar o turno é aguardar a vez, aguardar a dedinação (tonicidade) da fala ou aproveitar pausas longas. O interrompimento do turno é chamado de assalto, roubo...

OCORRÊNCIA DE PARES (pares conversacionais): é uma seqüência de dois turnos (perguntas/respostas) – na fala tem predominância de perguntas.

TÓPICO: relacionado ao texto falado. É o assunto que é falado.

MARCADORES: recursos verbais que operam como marcadores formando uma classe de palavras ou expressões altamente estereotipadas (aí?, sabe?, né?): observação: marcadores: de caráter verbal: utiliza-se de expressões padronizadas, estereotipadas; de caráter não-verbal: utiliza-se de expressões gestuais e de caráter supra-sigmental: utiliza-se da forma lingüística, como ex.: a pausa e o tom de voz.

TENDÊNCIAS: diálogos simétricos: quando vários indivíduos têm supostamente o mesmo direito à auto-escolha da palavra, do turno a tratar e de decidir; diálogos assimétricos: é o mais comum no dialogo: é quando um indivíduo em um grupo tem o direito de iniciar, orientar, dirigir e concluir a interação (entrevista, inquéritos, interação em sala de aula).

EXEMPLO: TEXTO PRODUZIDO POR G.G.A., 13 ANOS, ALUNO DA 7ª SÉRIE DO PRIMEIRO GRAU DE UMA ESCOLA PARTICULAR, DA CIDADE DE SÃO PAULO:

TEXTO FALADO2: A Civilização Mexicana

Primeiro eram os olmecas né? daí:: eles... começaram onde que é a Cidade do México hoje... começaram a fazer os templos aí depois veio os astecas né? que começaram tudo fizeram mais templos fizeram templos mais luxuosos assim fizeram mais crenças... religiões essas coisas assim... depois vieram os toltecas que deu origem à civilização mexicana e toda essa civilização milenar foi distruída pelos espanhóis que quando chegaram ao México assim é:: de:: s truíram tudo as pirâmides os templos aí foi o fim da... da civilização

TEXTO ESCRITO: A Civilização Mexicana

        Os primeiros foram os olmecas, que fizeram suas pirâmides, seus templos onde fica hoje a Cidade do México; tinham técnicas muito atrasadas. Depois os astecas, que faziam templos mais luxuosos e tinham técnicas mais aperfeiçoadas. Os últimos foram os toltecas, povo que deu origem à atual civilização mexicana.

         Toda essa civilização milenar foi destruída pelos espanhóis que invadiram suas terras e acabaram com muito do que encontraram.

Leonor Lopes Fávero

Maria Lúcia da Cunha V. de O. Andrade

Zilda Gaspar Oliveira de Aquino

Universidade de São Paulo.

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